Dona Zica

Dona Zica, pseudônimo de Euzébia Silva do Nascimento (Rio de Janeiro,6 de fevereiro de 1913 -Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2003) foi sambista da velha guarda da Estação Primeira de Mangueira e foi a última mulher do sambista Cartola.

Grande símbolo do carnaval carioca, Dona Zica participou da novela Xica da Silva e sua biografia foi escrita pela escritora pernambucana Odacy de Brito Silva. Ficou mais conhecida ao se casar com o Mestre Cartola.

Dona Zica já tinha mais de 40 anos de idade quando se casou com Cartola, em 1954. Eles se conheciam desde jovens mas nunca haviam namorado, eram vizinhos no Morro da Mangueira, onde moravam. Não namoraram pois Zica já estava comprometida e na época a mulher era mal vista se o seu noivado fosse desfeito.

Zica casou-se aos 19 anos com seu primeiro marido, teve cinco filhos biológicos e adotou um sexto. Ficou viúva após 20 anos de casada. Cartola também se casou, porém não teve filhos, porque era estéril. Após ficar viúvo, viveu mais de 10 anos longe da Mangueira. Um dia, voltou e reencontrou sua antiga amiga, Zica, e começou a se interessar mais por ela, e passou a namorá-la. Casaram-se e viveram juntos 26 anos, até a morte dele, em 1980.

Seu talento gastronômico, foi decisivo na alavancada obtida na vida do casal, pois, conforme um depoimento seu, registrado na biografia de Cartola, op. cit., ela, na década de 1960, foi comandar um vatapá, na casa de Benjamin Eurico Cruz, e fez um contato do qual viria a surgir embrião do Zicartola, famosa casa de samba do Rio de Janeiro e restaurante a qual se tornou um ponto de encontro dos sambistas da época.

Dona Zica, morreu aos 89 anos de problemas cardiovasculares. É figura inesquecível na história da nossa música, sendo bastante amiga de Dona Neuma, outra grande personalidade da Mangueira.

 

Os bons tempos do Zicartola (Trecho da biografia de Cartola)

Em 1957, Cartola trabalhava como vigia e lavador dos carros dos moradores de um edifício em Ipanema. Nessa função, foi identificado em uma madrugada pelo jornalista Sérgio Porto (conhecido como Stanislaw Ponte Preta), sobrinho do crítico musical Lúcio Rangel, que havia dado ao sambista, anos antes, o apelido de "Divino Cartola". Ao ver o compositor magro e maltrapilho em um macacão molhado, Stanislau decidiu ajudá-lo, começando por divulgar a redescoberta, que fizera, do sambista. Àquela altura, Cartola era dado como desaparecido ou mesmo morto por muitos de seus conhecidos e admiradores. O reencontro com o jornalista foi definitivo para a retomada de sua carreira como músico e compositor.

A promoção rendeu algumas apresentações na Rádio Mayrink Veiga e em restaurantes, além de matérias em jornais e revistas. Sérgio também arranjou para o sambista, por meio do cronista e pesquisador Jota Efegê, um emprego de contínuo no jornal Diário Carioca em 19585 e, no ano seguinte, no Ministério da Indústria e Comércio. Em 1958 foram gravados seus sambas "Grande Deus" e "Festa da Penha", respectivamente por Jamelão e Ari Cordovil. Em 1960 Nuno Veloso gravou "Vale do São Francisco", parceria com Carlos Cachaça.

No início da década de 1960, Cartola se tornou zelador da Associação das Escolas de Samba, localizada em um velho casarão no centro do Rio de Janeiro, que se tornou um ponto de encontro de sambistas de toda a cidade. Além das rodas de samba no local, Zica - uma exímia cozinheira - passou a servir uma sopa aos participantes. Estimulado por amigos, Cartola e Zica resolveram aplicar a fórmula música-comida em um sobrado da rua da Carioca, também na zona central da cidade, em 1963. A iniciativa contou com o apoio financeiro de empreendedores considerados "mangueirenses de coração", como o empresário Renato Augustini.

O Zicartola se tornou um marco na história da música popular brasileira no início das década de 1960. Além da boa cozinha administrada por Zica, Cartola fazia as vezes de mestre de cerimônias, propiciando o encontro entre sambistas do morro e compositores e músicos de classe média, especialmente ligados à Bossa Nova, além de poetas-letristas como Hermínio Bello de Carvalho e jornalistas musicais como Sérgio Cabral. Velhos bambas, como Nelson Cavaquinho e Zé Kéti, se juntavam a novos talentos, como Élton Medeiros e Paulinho da Viola. Além da presença constante de alguns dos melhores representantes do samba de morro, diferentes gerações de cantoras se encontravam ali, como Elizeth Cardoso e Nara Leão.

No Zicartola, desafiado pelo amigo Renato Agostini, Cartola compôs com Elton Medeiros em cerca de 30 minutos o samba "O Sol Nascerá", que se tornaria um de seus grandes clássicos. A mesma facilidade para compor experimentaria em "Alvorada" um samba feito a seis mãos. Compusera com Carlos Cachaça a primeira parte de um samba que decidiram mostrar a Hermínio Bello de Carvalho, que escreveu então os versos da segunda parte, que ele musicou na hora.

Moda no Rio de Janeiro, o Zicartola inaugurou um gênero de casa noturna que viria a se propagar nas décadas seguintes. Apesar disso, o bar durou pouco e, mal-administrado, fechou as portas após dois anos de existência, pois seu dono definitivamente não tinha tino comercial. Em 1974, um bar chamado Zicartola foi aberto no bairro paulistano de Vila Formosa.

Ainda em 1964, Cartola e Zica se casaram oficialmente (às vésperas do casamento, ele compôs "Nós Dois" para ela), e o sambista atuou no filme "Ganga Zumba". de Carlos Diegues, no papel de um escravo. Ele já havia atuado discretamente em "Orfeu Negro" e ainda participaria de "Os Marginais".4 O samba "O Sol Nascerá" foi gravado por Isaura Garcia.

Em 1965 foi lançado o álbum com gravações do Show Opinião, no ano anterior, realizado entre Zé Keti, João do Vale e Nara Leão - esta incluiu "O Sol Nascerá" (de Cartola e Elton Medeiros) no repertório do LP. Esta gravação tornou Cartola, assim como outros sambistas de seu círculo, conhecidos pelo público de classe média da época, projetando-os profissionalmente. Em consequência do prestígio que ganhou, Cartola chegou a ter seu nariz retocado pelo célebre cirurgião plástico Ivo Pitanguy. Pery Ribeiro e Bossa Três também regravam "O Sol Nascerá".

Ainda em 1965 Cartola iniciou a construção de uma casa (verde e rosa) ao pé do morro da Mangueira, em terreno doado pelo então Estado da Guanabara. Naquele mesmo ano e no seguinte fez participação em dois discos de Elizeth Cardoso, que gravou o samba "Sim" (parceria com Oswaldo Martins e Leny Andrade). Ainda em 1966 gravou com Clementina de Jesus seu samba "Fiz por você o que pude".

Em 1968 participou em duas faixas do LP "Fala, Mangueira", que reuniu, além dele, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Clementina de Jesus e Odete Amaral. Também naquele ano, Cartola gravou com Odete Amaral "Tempos Idos" (parceria com Carlos Cachaça) e Ciro Monteiro gravou "Tive Sim".

 

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dona_Zica

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